HUMANIDADE X NATUREZA:
Juca Martins
: "Serra Pelada"

  • Humanidade X Natureza
    Juca Martins

    "Serra Pelada"
  • “A despeito de nossa orgulhosa pretensão de dominar a natureza,

    ainda somos suas vítimas, na medida em que

    não aprendemos a nos dominar a nós mesmos. 

    De maneira lenta, mas que nos parece fatal,

    atraímos o desastre.”

    Carl Jung  

  • Serra Pelada: a febre do ouro

    Serra Pelada: a febre do ouro

    No ano de 1980, enquanto cobria a história do assassinato de um líder camponês no Pará, Juca ouviu falar num garimpo de ouro que irrompia na Serra Pelada, a sudoeste de Belém. Na época, 15 mil homens tentavam a sorte no meio da floresta amazônica. Em 1981, uma das fotografias dessa reportagem, em preto e branco, rendeu a Juca Martins o Prêmio Internacional Nikon de fotojornalismo.


    Em 1986, no auge do garimpo, quando cerca de 120 mil pessoas haviam migrado para a região, ele volta à região. O maior garimpo ilegal do país. Juca decidiu registrar o que via em filme colorido. Uma visão pouco difundida do garimpo revela-se nas 17 fotografias que a Utópica apresentou pela primeira vez em São Paulo, na exposição A Febre do Ouro em 2019.

  • "O brasileiro sofrido utiliza o humor para lidar com as adversidades do dia a dia. No garimpo, não existia lamentação. (...) Serra Pelada significava a possibilidade de desacatar o destino."

    Juca Martins, no livro "A febre do Ouro" - Utópica 2019

  • Mais do que atores num drama coletivo orquestrado pelo sistema. Ou peças de um jogo inexorável ditado apenas pelas circunstâncias políticas. Nas imagens que Juca Martins fez da Serra Pelada, as pessoas parecem dizer-nos que estão ali como indivíduos. Com dramas pessoais, sim, mas também, com vontade própria. 




    Nas fotografias do maior garimpo a céu aberto do mundo, persiste a dimensão humana. Mesmo nas imagens acachapantes que mostram a imensidão de uma cratera de mais de 24 mil metros quadrados aberta em plena floresta.


     

     

    Jovens que brincam de mãos dadas na estrada poeirenta. Os garimpeiros que sorriem para a câmera de Juca enquanto peneiram a terra molhada. São imagens que chegam sem intermediações a quem as vê. Colocando seres humanos frente a frente. 


    Milhares de homens, que sobem e descem pelas encostas carregando sacos da terra na qual esperam encontrar a fortuna. A terra, a água e a pele deles misturam-se em um tom de penumbra. Como na pintura de um artista deslumbrado com uma cena que não cabe em sua tela.

  • De volta à Serra Pelada: um atraso de 40 anos.

    Além da situação precária de trabalho e das milhares de mortes por acidentes, Serra Pelada era marcada pela violência. Ao menos 80 assassinatos eram registrados por mês na área e eram frequentes os ataques do governo militar aos garimpeiros, na tentativa de devolver parte da região à empresa Vale do Rio Doce.  

     

    O mais conhecido deles, o "Massacre da ponte", encurralou e atacou mais de 300 homens que se manifestavam por melhores condições de trabalho. 70 corpos continuam desaparecidos até hoje, e estima-se que mais de 42 toneladas de ouro tenham sido extraídas nos anos 80. 

    Com o fim da ditadura militar, a partir da constituição de 1988, o Brasil começou a excercer uma politica de proteção ao meio ambiente, demarcando e protegendo as terras indigenas, reduzindo garimpos, queimas e desmatamentos. Aos poucos o país ganhou respeito internacional por sua politica ambietal.

    Mas tudo mudou nesta última década. Lembrar de Serra Pelada se torna fundamental para olhar para o que estamos vivendo agora. "Toda a evolução que tivemos desde a constituinte de 88, foi jogada no lixo em 2016. Nos ultimos seis anos entramos num periodo destrutivo pior do que o que enfrentamos na ditadura. E com esse governo atual, o que vemos é um atraso de 40 anos", comenta Juca Martins.

    Hoje o garimpo segue como uma das grandes questões ambientais e políticas do Brasil, que segue sendo o país que mais mata ativistas. Nos últimos anos, com governos alinhados a extrema direita legislando a favor da exploração, o garimpo ilegal e o ataque a toda a região avança de forma cada vez mais preocupante. Atualmente Serra Pelada continua sendo alvo de especulações políticas e eleitoreiras, junto ás cooperativas de garimpeiros e aos militares.

  • Juca Martins

    Manoel Joaquim Martins Lourenço, mais conhecido como Juca Martins, nasceu em Barcelos, Portugal, em 1949, e mudou-se com sua família para São Paulo, em 1957. Desde quando começou a fotografar, em 1970, Juca sempre foi um fotógrafo politizado, formado por um momento histórico bastante particular, durante o qual lutava-se contra as injustiças sociais e pela identidade latino-americana. Seu arquivo de imagens constitui um patrimônio histórico reunido durante uma trajetória de mais de 50 anos.

  • A FEBRE DO OURO : SERRA PELADA, 1980-1986, published 2019 by Utopica Gallery

    A FEBRE DO OURO : SERRA PELADA, 1980-1986

    published 2019 by Utopica Gallery