Três autores do "sexo fraco": Alice Kanji, Dulce Carneiro e Annemarie Heinrich

  • 24 de novembro a 18 de dezembro de 2020
    18 de maio a 17 de julho de 2021

     

    Passada a primeira fase de reconhecimento de alguns dos principais autores do Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB), e de um certo deslumbre pela qualidade de suas fotografias, eis que vão se revelando novas histórias no emaranhado de imagens desconhecidas que surgem a cada dia. O que pouco se sabe é que no FCCB, além dos fotógrafos, havia fotógrafas que produziam e expunham seus trabalhos, principalmente nos salões internacionais realizados anualmente na Galeria Prestes Maia, no centro da cidade de São Paulo.

    Recentemente encontrado pelo diretor da Utópica, Pablo Di Giulio, o editorial que deu origem à presente exposição foi publicado em 1960 no Boletim Foto Cine 115, e comenta a participação das mulheres no 18º Salão Internacional de Arte Fotográfica de São Paulo, promovido pelo FCCB no ano de 1959. O título da mostra utiliza termos contidos no editorial para atiçar a curiosidade do espectador contemporâneo a respeito do posicionamento ambivalente do Clube em relação às mulheres, no período.

  • Annemarie Heinrich* (1912 - 2005)

    Annemarie Heinrich* (1912 - 2005)

    Nascida na Alemanha, Annemarie Heinrich* (1912 - 2005) emigrou com sua família para a Argentina, chegando a Buenos Aires, onde atuou primeiro como aprendiz em vários estúdios de fotógrafos de origem européia, até que aos 18 anos iniciou-se na profissão, abrindo um estúdio próprio. Ela logo ficou conhecida por sua excelência técnica no domínio da luz, tornando-se uma das mais requisitadas retratistas de personalidades da alta sociedade portenha, bem como de intelectuais e artistas. No âmbito dos foto-clubes, participou da criação do Foto Club Argentino, em 1936, e foi uma das fundadoras do Foto Club Buenos Aires, em 1947.

     

    Annemarie Heinrich apresentou seus trabalhos em inúmeras mostras e salões, nacionais e internacionais. Participou regularmente do Salão Internacional de Arte Fotográfica de São Paulo, organizado pelo FCCB, associação que patrocinou uma grande exposição de seu trabalho no Museu de Arte de São Paulo (MASP), em 1951. Criou, junto com outros destacados fotógrafos, o grupo La Carpeta de los Diez, como reação ao ambiente acadêmico que então tomava conta dos foto-clubes. Manteve-se ativa até 1995; é amplamente reconhecida por seu legado para a construção da identidade feminina e pela luta contra a hegemonia patriarcal no campo das artes.

    * A Utópica representa a obra de Annemarie Heinrich apenas no Brasil, em parceria com a Galeria Vasari, representante do acervo da fotógrafa.

  • Dulce Carneiro (1929 - 2018)

    Dulce Carneiro (1929 - 2018)

    Nascida em Atibaia (SP), Dulce Carneiro (1929 - 2018) foi poeta, jornalista, estilista e fotógrafa. Aos vinte anos de idade, depois de ter participado da cena artística e literária da sua cidade natal, muda-se para a capital em busca de novas experiências e possibilidades de atuação profissional. Em São Paulo, na década de 1950, logo se integra à sociedade local, aproximando-se de Flávio de Carvalho e Yolanda Penteado, entre outras personalidades. Passa a colaborar com o jornal O Estado de S. Paulo, por meio da coluna “Uma crônica por mês”, onde tratava de temas ligados às suas três principais áreas de interesse: moda, poesia e fotografia.

    No final da década de 1970, deu uma guinada em sua trajetória e passou a atuar com entusiasmo na fotografia de arquitetura e de indústria, ramos tradicionalmente dominados por homens. Entre os vários e proeminentes escritórios de arquitetura que contrataram seus serviços, destaca-se o de Oscar Niemeyer, de quem fotografou praticamente todos os projetos residenciais. Em 1978 recebeu em Nova York, o prêmio “Communication Arts Magazine” pelo melhor trabalho fotográfico publicado na revista “Architectural Digest” no ano anterior. No FCCB, Dulce Carneiro esteve ativa entre 1951 e 1971. No início da década de 1990, desencantada com a fotografia e queixando-se de uma crescente falta de reconhecimento de seu trabalho, que atribuía em parte às diversas mudanças na sua área de atuação, destruiu todo seu arquivo de negativos, fotografias, recortes de jornal e demais documentos acerca de sua trajetória artística e profissional.

  • Alice Kanji (1918 - 1992)

    Alice Kanji (1918 - 1992)

    Nascida em Bauru (SP), Alice Kanji (1918 - 1992) ingressou no FCCB em 1951, para acompanhar seu marido, Tufy Kanji, que era encarregado do estúdio do Clube, onde produzia retratos, tendo a esposa como ajudante na preparação dos modelos. Em pouco tempo, Alice Kanji lançou-se numa trajetória própria que durou cerca de trinta anos, tendo sido muito ativa até o início da década de 1980, permanecendo no Clube mesmo após a morte de seu marido.

  • Por ocasião da publicação do catálogo da exposição, em agosto de 2020, a Utópica transmitiu duas conversas sobre temas ligados à exposição. Em novembro, foi gravada uma terceira conversa uma conversa ao vivo, entre o diretor da galeria, Pablo Di Giulio, e a docente e curadora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Helouise Costa, autora do texto crítico que acompanha a presente exposição “Presenças efêmeras: mulheres fotógrafas no Foto Cine Clube Bandeirante”. 

  • Presenças efêmeras: mulheres fotógrafas no Foto Cine Clube Bandeirante

    Helouise Costa docente e curadora do MAC USP in: Três autores do sexo fraco. Utópica (2020)

    (...) Sobre o posicionamento do Foto Cine Clube Bandeirante em relação às mulheres ao longo do período investigado, observa-se uma forte ambivalência nas ações e nos discursos. Esse foi o caso da criação da “Seção Feminina”. Segundo Eduardo Salvatore, então presidente do Clube, o “objetivo era estimular a atuação das mulheres na fotografia”. Como não houve a adesão esperada, ele atribuiu a responsabilidade às próprias mulheres, alegando a falta de disponibilidade delas em sair às ruas para fotografar. É difícil avaliar até que ponto os dirigentes do Clube estavam realmente dispostos a oferecer condições para que as mulheres pudessem superar as barreiras vigentes à sua atuação como fotógrafas. A falta de recursos financeiros próprios para compra de equipamentos, as restrições à livre circulação em logradouros públicos e a impossibilidade de frequentar cursos e reuniões, realizados geralmente à noite, são alguns dos empecilhos impostos a elas. (...)

     

  • TRÊS AUTORES D "SEXO FRÁGIL"

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