Aula aberta com Juca Martins. Sábado, 17/8, das 15h às 17 horas, na galeria Utópica. Entrada franca.
No ano de 1980, enquanto Juca Martins cobria a história do assassinato de um líder camponês no Pará, ouviu falar num garimpo de ouro que irrompia na Serra Pelada, a sudoeste de Belém. Após conseguir rolos de filme novos, vindos de São Paulo, e uma autorização do Major Curió, que controlava o acesso à região, Juca foi o primeiro fotógrafo a documentar o garimpo de ouro na Serra Pelada, quando já 15 mil homens tentavam a sorte no meio da floresta amazônica. Em 1981, uma das fotografias dessa reportagem, em preto e branco, rendeu a Juca Martins o Prêmio Internacional Nikon de fotojornalismo.
Retornando à Serra Pelada em 1986, no auge do garimpo, quando cerca de 120 mil pessoas haviam migrada para a região, Juca decidiu registrar o que via em filme colorido. Uma visão pouco difundida do garimpo revela-se nas 17 fotografias que a Utópica apresenta pela primeira vez em São Paulo, na exposição A Febre do Ouro. Mais do que atores num drama coletivo orquestrado pelo sistema, ou peças de um jogo inexorável ditado apenas pelas circunstancias políticas, nas imagens que Juca Martins fez da Serra Pelada, as pessoas parecem dizer-nos que ali estão como indivíduos com vontade própria. Nas fotografias do maior garimpo a céu aberto do mundo, persiste a dimensão humana, mesmo nas imagens acachapantes que mostram a imensidão de uma cratera de mais de 24 mil metros quadrados aberta em plena floresta. Jovens que brincam de mãos dadas na estrada poeirenta e os garimpeiros que sorriem para a câmera de Juca enquanto peneiram a terra molhada, são imagens que chegam sem intermediações a quem as vê, são seres humanos frente a frente. A terra, a água e a pele dos homens, que sobem e descem pelas encostas carregando sacos da terra na qual esperam encontrar a fortuna, misturam-se em um tom de penumbra, como na pintura de um artista deslumbrado com uma cena que não cabe em sua tela.
Manoel Joaquim Martins Lourenço, mais conhecido como Juca Martins nasceu em Barcelos, Portugal, em 1949. Mudou-se com sua família para São Paulo em 1957. Começou a fotografar em 1970. Sempre foi um fotógrafo politizado, formado por um momento histórico bastante particular, durante o qual lutou contra as injustiças sociais e pela identidade latino-americana. Seu arquivo de imagens constitui um patrimônio histórico reunido durante uma trajetória de mais de 40 anos como um dos mais prestigiados fotojornalistas brasileiros.