Blog do Juan Esteves : SETEMBRO 9, 2015
Marco Alves em seu precioso Opará, onde nasce o São Francisco ( Edição do Autor, 2013) partia de uma paisagem onírica sugerida por uma delicada palette monocromática para uma digressão entre o eterno e o passageiro, entre a imagem fixa e aquela em movimento, trabalho que desenvolve desde 2004 essencialmente na Serra da Canastra. Em Habitants (Edição do autor, 2015) ele permanece em sua região no Centro-Sul do estado de Minas Gerais, bem como volta sua câmera para discutir mais uma vez a questão temporal entre a paisagem e sua transformação constante.
Habitants mostra imagens mais fechadas e é calcado em duas experiências peculiares: A captura de uma imagem contemplativa - e muito detalhada, onde a natureza sugere os vestígios da existência e de suas transformações constantes e uma impressão fruto de pesquisa intensa que traz altas luzes com tons quentes e baixas luzes em tons frios, desenvolvida pelo fotógrafo, por Ricardo Tilkian, que tratou as imagens e a equipe da gráfica Ipsis, resultando em uma delicadíssima edição. Com seu tamanho pequeno (18X13cm) se insere no percurso mais contemporâneo das pesquisas para os fotolivros onde o que importa não é sempre o tamanho mas sim o conteúdo e a excelência gráfica.
O lançamento do livro (leia abaixo mais infos) também se reveste de singularidade a que o autor, fotógrafo e professor da Unicamp, está habituado: a exposição de uma única imagem, dos mais de 30 diferentes registros constantes da edição. A ideia, segundo Moracy de Olveira, jornalista e crítico, que escreve um dos textos, juntamente com a curadora e coordenadora editorial Rosely Nakagawa, é uma espécie de provocação com a quantidade de exposições e imagens a que estamos submetidos nos últimos anos quando a fotografia consquistou um espaço privilegiado em museus, galerias, feiras, sites, blogs e redes sociais como Facebook e Instagram.
Ao imaginar uma única imagem como fluxo contemplativo, lento e detalhado, uma publicação pequena e delicada de poucas fotografias que se acomodam ao percurso mais natural e menos veloz do leitor, Alves retorna a sua relação dialética com seus elementos sem se distanciar de sua dimensão poética. O contraponto da edição impressa que impõe um ritmo oposto ao da eletrônica se traduz também na busca pela aqualização destas experiências na vida contemporânea: observação dinâmica mas superficial versus um olhar detido e mais profundo.
Rosely Nakagawa é parceira de longa data de fotógrafos cuja a contemplação se ajusta mais aos roteiros meditativos em oposição as imagens que procuram problematizar seus conteúdos. Em seu excelente texto ela não só resgata os caminhos da arte pelos dogmas acadêmicos dos primórdios do século XIX que estabeleciam as hierarquias da imagem de paisagem, como afirma que as fotografias de Alves subvertem regras e conceitos invertendo a ordem hierárquica dos “seres quase insignificantes" retratados no livro.
Moracy de Oliveira alerta que a persuação da narrativa focada em recortes pontuais da paisagem, amplificada na edição de Nakagawa, articulam a ação do tempo sugerida pelo autor. Como causa e motivo de sua obra, as imagens não sofrem um encadeamento lógico, mas se articulam entre si, sugerindo a suspensão desta ação temporal, na dicotomia de que tal imobilidade na verdade é vida e esta se afasta dos atropelos urbanos. Para ele, é preciso que o leitor desligue seus cronômetros e reconfigure seu próprio tempo: “Poder olhar e ver, ver e refletir no mesmo tempo destas imagens.
imagens © Marco Alves texto© Juan Esteves
Lançamento do livro no dia 12 de setembro, sábado, as 11 horas
Galeria Fass, Rua Rodésia, 26, Vila Madalena, São Paulo
Visitação de segunda a sexta das 10hs as 19hs, sábados das 11hs as 17hs.
tel. 11- 3037 7349