Em 1904, apenas alguns meses antes de sua morte em Tóquio, um escritor grego-irlandês que passou grande parte de sua vida adulta na América, publicou “Kwaidan: histórias e estudos de coisas estranhas”, uma coleção de contos de horror do folclore tradicional japonês, que permanece amplamente lida e inspirou filmes notáveis.
A vida do escritor Lafcadio Hearn não foi menos extraordinária do que sua escrita, e ambas inspiraram Hiroshi Watanabe, premiado fotógrafo de origem japonesa, que vive atualmente em Los Angeles, a recriar em imagens os contos compilados e traduzidos para o inglês por Hearn há mais de um século atrás.
Na tradição budista japonesa, os contos fantásticos tinham uma função exemplar, revelando uma dimensão mais ampla da existência humana. Nesse sentido, as fotografias de Hiroshi Watanabe proporcionam uma rara e misteriosa visão do oculto. Muitas das histórias são representadas em uma única imagem, outras, mais densas em simbolismo, chegam a ter três cenas. Em 2016 o fotógrafo recebeu uma bolsa da Fundação Pollock-Krasner, a qual possibilitou a realização do projeto no Japão, concluído em 2019, com a publicação da reedição de Kwaidan, ilustrado por 23 fotografias da série.
Kwaidan: histórias de coisas estranhas é a primeira exposição das fotografias no mundo, na galeria Utópica. Por ocasião da mostra, Hiroshi Watanabe esteve em São Paulo pela primeira vez, e deu palestras na Japan House e no MAM-SP.
Hiroshi Watanabe nasceu em Sapporo, Hokaido, em 1951. Graduou-se em fotografia na universidade de Nihon em 1975 e mudou-se para Los Angeles, onde chegou a dirigir uma produtora de comerciais para a TV japonesa. No início dos anos 2000, decidiu retornar às suas origens e desde então dedica-se exclusivamente à fotografia autoral. Tendo editado vários livros, atualmente vive em Los Angeles e viaja regularmente ao Japão e a vários países, onde realiza seus ensaios fotográficos.